sábado, 19 de fevereiro de 2011

Lendo cartas

As cartas sempre me fascinaram. Desde as cartas de amor até as cartas do tarô. Vejo nelas sempre o jogo, a sedução. Nelas há coisas ditas, mas há coisas escondidas. Palavras que vem e vão criando novos movimentos, abrindo novos caminhos, tecendo certezas.
Sempre vivi descartando e organizando as jogadas,com isso, já me senti fora do baralho.
As epístolas tem seu encanto. São organizadas para dizer verdades e construir mentiras. Falam de amor e separação, falam de despedidas, falam de morte e de vida.
Atrás de cada carta há uma chama de uma vela, um olhar que se projeta para alcançar a palavra certa. Aquela que descreverá o que se sente, ou quem sabe ocultar o que não queremos que saibam.
Já escrevi cartas, orações, memórias. Entretanto, são as cartas de despedida que me fascinam. Prometem tanto, mas o coração está cheio de dor. As cartas de despedida são lenços brancos que se perdem na curva do caminho. As carruagens somem, mas o perfume do vinho, do tabaco e o gosto do último beijo permanecem. Balzac sabia como ninguém falar de despedidas.Pessoa falava de perdas como quem nada ganhou e eu quero penetrar no feitiço das cartas dos mais diversos autores, Quero que minhas mãos digitem as mais longas cartas para falar da vida, da minha intermitência e do mundo que me povoa.
Quero ser uma guardiã que consola os aflitos e protege os fracos, porque o meu voar será cada vez mais para dentro, até que eu e o mergulho sejamos uma e a mesma coisa.

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