terça-feira, 13 de setembro de 2011

Navegando no Facebook

Torre de TV, sol escaldante, ar seco. Brasília em brasa neste domingo. Mas vale circular entre as bancas da feirinha e trocar ideias com os vendedores. Dão de graça sorrisos, banquinho para descansar, dicas sobre como tratar couro e prata, contam histórias das gentes do lugar.
Enfim, minha terra tem cigarras que chegarão, tem ipês, caliandras, pessoas, arte e humanidade. Bom domingo no Planalto!

Final de tarde, céu cinza das queimadas. Tela do computador dando um colorido e ao lado uma música "nossa, nossa...assim"rsrsrs e eu mergulhada em trabalho, em reflexões e ponderações. Anúncio de um final de semana produtivo.
O tempo e a memória me tomam pelas mãos e eu sigo de olhos fechados me guiando por imagens e rostos que amo.

O Planalto e sua névoa seca. Mas mesmo assim, eu e tu transitamos por suas artérias monumentais. Cheias de histórias que descem dos prédios e se tocam no espaço do público.

Hoje a palavra está presa. Tomada por um sentimento de querência. Querência de tudo que me deixasse com os pés no chão e com o coração nas nuvens. Porque sou árvore e sou gente. Me fixo e me projeto. Minhas folhas caem, mas a espinha continua ereta e o poeta sabe que nem sempre o sentir é tranquilo.

Elis, com ela aprendi a mergulhar no silêncio de mim mesma. Com ela aprendi a sentir a intensidade das coisas banais. Com ela descobri que ser mulher é permitir-se ir além do Bojador, ir além da dor para ser feliz.
Que a vida me seja intensa, rara e única.
Navegar pelas Mais Recentes do Face é de fato entregar-se a um mosaico de imagens, ideias, emoções. Troca-se informação, atualiza-se sobre os últimos relacionamentos amorosos, descobre-se as vaidades de cada um de nós, as manias, os gostos e desgostos cotidianos. Mistura-se sem censura o coloquial e formal. No Face as faces que se mostram são avatares, são reais, são narradores que se escrevem para se traduzirem.
Hoje os ipês brancos que emolduram minha janela dão um colorido especial aos céus do planalto. São nuvens enraizadas no chão. Lindos sem dúvida, mas estou enamorada de uma única rosa que se ergue altiva, como uma rainha a duvidar de mim.
A vida e as pessoas me são caras. Tão caras que a possibilidade de perdê-las me apavora. Há algumas que estão tatuadas em minha alma. Uma alma que se entrega, um alma que se projeta em direção ao outro, uma alma que transborda de amor e por incompetência emocional muitas vezes magoa e fere. Há oportunidade de reconstruir? Não me foi dada esta chance quando eu mais queria.


Hoje o primeiro dia do novo ciclo que se inicia dia 21. Vem Vera, Vem Prima se espraia no mundo, explode em cor, enche de sumo e seiva a vida. Faz nossos olhos ficarem prenhes de mundos. Me deixa dirigir no Eixão virando o rosto de um lado para o outro em busca da flor, daquela flor que traz em si o germe de todo um universo. E as lesmas Manoel de Barros, onde estarão? Fodendo uma pedra?
Conversa louca, mas nós dois sabemos visgos e sobre paredes...

Olhos como esses me fitaram muito ontem à noite em frente à janela do meu quarto. Voava e mergulhava piando muito. Me anunciava algo e este texto retrata o que sinto desde ontem. Santa Évora!!

A vida é feita de insurgências. Deparamo-nos todos os dias com o novo, o inesperado. Viver é conseguir fazer desses fenômenos momentos de aprendizagem. E como diz Maffesoli, é preciso ouvir a relva crescer, perceber o mundo em um processo de escuta sensível.

Como afirmava Beauvoir ,não se nasce mulher: torna-se. E nos afirmamos com tal a partir do momento que entendemo-nos portadoras de uma subjetividade equivocada construída socialmente e que precisa ser desconstruída. Somos fortes e frágeis, somos emoção e razão. Somos sapiens e demens. Humanas e complexas.
Sem esquecer de dizer também que somos lindas nas nossas identidades.
Hoje vi meu presente passar diante de mim, tinha jeito de passado distante. O meu agora se reveste de futuro e busco a simbologia dos gestos para entender os silêncios interiores que se apresentam. Ser humano é estar em busca de si, do outro e das respostas que se fazem perguntas.

As cartas sempre trazem respostas. Meu oráculo, meu mapa de navegação. Herança ancestral que me fortalece. Sou humana, simbólica e ritual. Jung sempre me ajudou a interpretá-las sob o ponto de vista dos arquétipos. Colocá-las é um mergulho impagável no inconsciente.
A comunicação virtualizada é rica, mas limitada. As palavras, os sentimentos acontecem em um contexto real e quando virtualizadas perdem esse suporte, portanto, o face a face é fundamental. O olhar, o toque, a voz são indispensáveis para interpretar o discurso do outro.
E o skype e tantas outras ferramentas de áudio/vídeo? Também geram distorções, há uma máquina mediando o contato.

A cada movimento que fazemos em direção ao outro para entrar em relação, ganhamos energia, experiência e principalmente desenvolvemos a tolerância. Primeiro conosco, porque temos limitações,segundo com as limitações que impedem a troca de saberes. Sempre sabemos menos do que imaginamos, e estamos no mundo para aprender mais, respeitar mais e doar-se para o bem do coletivo. O mundo não sou eu, eu estou no mundo e tenho a obrigação enquanto espécie, de torná-lo melhor.

E a vida corre com toda sua beleza. As pessoas que amo vivendo com saúde, realizando seus projetos, construindo novas relações. Desejo sempre boas energias para os próximos e os mais distantes. A primavera se aproxima e o Planalto verá brotar flores das árvores que hoje estão desfolhadas. A vida é ciclo, renovação, enfim processo.

Há textos e mais textos a serem lidos, mas o que importa de fato são os textos vividos, as narrativas concretas. O que importa é a vida em cada momento raro. A vida em cada nó da rede. Importa o ser humano, seu inacabamento e sobretudo as pontes que construímos de nós para os outros.
Sou feliz porque trago no corpo as marcas da minha história, das histórias que ouvi de outras mulheres que me formaram. Amo a liberdade de pensar, mesmo com todos os discursos que introjetei e incorporei ao meu.
Participar da preparação da Marcha é sentir um país pulsante, vivo. São olhos que se buscam em meio a tantos rostos. Rostos queimados de sol, jovens ou marcados pelo tempo e pela lida. Mulheres que trazem no corpo a marca da terra . Mulheres que conversam contigo e contam suas histórias, apenas porque gostaram do cartaz que você confeccionava. Mulheres do campo que te beijam porque você pintou o chapéu delas. Mulheres, enfim, seres de luz sobre o chão.

Todas as coisas pequenas ou grandes existem em estado quântico. Não sou eu quem disse isso, foi o químico Shäfer. Isto significa que tudo ao nosso redor pulsa porque somos energia e formados de moléculas. Para que perder tanto tempo competindo, se podemos vibrar juntos?

Hoje é um dia especial na minha vida. Abri baús, revisitei antigos álbuns. Senti saudade da infância dos meus filhos. Ambos tão presentes na minha vida hoje. Meus companheiros, meus amigos e meus cúmplices em todas as minhas aventuras e tentativas de revolução.
O mundo virtual tem seus avatares. Nunca os confunda com as pessoas reais, porque são mundos diferentes e nem sempre se comunicam.

O que une as pessoas de uma família são laços que se dão no espaço da cumplicidade, das emoções e principalmente porque o universo e suas forças de alguma forma promoveu esse encontro. Não estamos juntos por acaso.


O Planalto Central, aquele que abriga o Distrito Federal e seus moradores, não o outro que abriga pseudopolíticos, arde debaixo de um sol forte e um tremendo ar seco. Mas do coração das pessoas jorra leite e mel como profetizou Dom Bosco para esta terra.
Muitos de nós quer uma cidade melhor e cada um com pequenos gestos cotidianos pode fazer a diferença. Vamos juntos?

Leveza. Leveza na alma. Os dias correm repletos de sol, com grandes suspiros de satisfação. Uma fome intensa de gestar textos contundentes, flechas certeiras que ultrapassem o alvo. Criar é ser descometido com as palavras e reinventar o espaço do não dito.
O medo é como uma flor que muitas vezes resiste à força da ventania. Mas quando sabemos a direção, mesmo uma brisa leve a arranca dos galhos.
A minha fragilidade é a minha força.

Noite de domingo é sempre um momento para escutar o silêncio da noite, atravessado pelo som das corujas que pousam no muro de casa. Espreitam-me e eu as espreito tentando buscar a luz da lua que teima em ofuscar nossos olhos. Olhos meus, olhos delas. Olhos da noite, olhos de quem produz e vive melhor à noite. Corujamos juntas.

Somos todas uma, juntas em um só ser. Portanto, não dá para ser de ninguém em particular também. Somos de nós mesmas. Podem cantar a mulher, mas somos tantas em um só ser, complexas, ramificadas e dissimuladas como dizia Machado.
Sábado complicado de viver. Quando um filho adoece metade de nós sente a dor e a outra metade ganha força extra para cuidar. Cada sinal de melhora é uma vitória e um sopro de vida.
O corpo agora no início da madrugada pede acalanto, som de mar, mergulhos com borbulhas para repousar. Meu corpo palpita insone, porque a vida me espera, o projetar-se me move. São tantos fios para dar arremate, tantas ações para desencadear, enfim, ser movimento, ser mudança para ser gente em inacabamento.

Brasília amanheceu fria e garoando. Da minha janela vislumbro uma extensa área verde coberta de névoa gelada. Uma visão que me remete ao passado ancestral. Uma saudade que não se nomeia, mas foi em algum lugar que vi a chama de uma vela luzindo numa noite fria, enquanto manuscrevia palavras a ermo. Acordei bachelarianizando como nunca.

Nas tardes cotidianas navego pelas redes, trabalho nos ambientes virtuais, ouço músicas que vão do Ilê à Esperanza e rascunho umas linhas tortamente ontológicas. Mas tenho clareza que o face a face, o abraço quentinho e o sorriso franco são insubstituíveis.

Voltar para casa é vislumbrar um Planalto de cores suaves, um sol forte , ipês que se despetalam com a força dos ventos, mas principalmente, sentir-se acolhida no silêncio do colorido Grande Colorado.

Os lugares, as pessoas, seus cenários são um misto de ancestralidade e de renovação. Viajo e me renovo, viajo e mergulho no tempo, viajo e me transmuto em outras. Enfim de onde vim trouxe memórias, onde estou construo perguntas, para onde vou abro lacunas a serem preenchidas.

Meu pelourinho amado! em tuas ruas sinuosas aprendi a escutar meus ancestrais, a sentir a dor dos escravos e a vibrar com os atabaques de todos os blocos afro da minha doce São Salvador.
Ora iê iê ô ! Mamãe Oxum
Salve a Senhora da bondade!

Adoro viver contemplando a poesia que me cerca. É belo o vento soprando as folhas secas sobre o asfalto do Eixão. Planalto-poesia

A mulher madura tem a tez amaciada pelos anos,
A mulher madura tem os olhos mergulhados no infinito,
A mulher madura tem o ritmo das marés e com elas traz pérolas legítimas.
A tez, os olhos e o ritmo é a tríade do universo feminino em flor desabrochado.
Assim é você minha querida. Beijo no coração.