segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Olhando o fundo azul

Hoje fiquei vendo o fundo da piscina enquanto nadava e percebi que mergulhada na água, deslizando lentamente, podia ouvir mais profundamente a minha respiração.Assim, pude no silêncio, ativar memórias preciosas. Hoje busco nas águas o equilíbrio que essa nova fase da minha vida retirou. A instabilidade emocional é uma marca constante nessa fase da minha trajetória. Mas o encontro com outras mulheres sempre me faz refletir. Somos todas parecidas e tão diferentes. Cada uma ao seu modo, dizendo de diversas formas como desenvolveram mecanismos para navegar por esse mar.
Até então eu achava que meu barco tinha GPS. Não podia imaginar que o climatério seria um tsumanami que surge debaixo de um mar calmo. Tenho a maturidade, mas não o preparo para lidar com a sabedoria que a idade nos dá e o desgoverno que o nosso corpo opera.
Das víceras, pelo menos das minhas, nasce todo dia uma surpresa, prisão de ventre por dias, rins que filtram sem parar e do nada resolvem parar de repente. Intestinos que oscilam entre liberar e reter. Temperatura corporal que vai do frio ao calor abrasador em segundos ou minutos. Medos que assolam o sono, que desde os quarenta anos me acompanham.
Por outro lado, dias que nascem ensolarados e me sinto poderosa por horas, para depois ter vontade de se esconder e não falar com ninguém. E menina, ainda ter que trabalhar e ser profissional competente e segura.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Não sei nada de mim...

A vida tem laboriosamente me trabalhado para ceifar a poesia das minhas veias. Há muito tempo os verbos para me definir sempre se resumem a agressiva, egoísta, nefasta e instável.
Eu pouco digo do que sinto, sempre há um esforço para modular a liberdade que em mim habita. Há um esforço sobre-humano para que eu permaneça a mulher inacabada e incompleta. Quero colocar o pé na estrada e partir em direção ao sol.
Não há vontade de permanecer aqui. Escutar o vento e partir. Nas madrugadas procuro o som da minha respiração e vejo a tela do net book se abrir em sorriso, esperando engolir as palavras que produzo. Nunca serei poeta, serei sempre aquela que tece em busca da trama de muitos fios que tragam a certeza de que não sei a direção a tomar.

Angústia

A vida me dói. O passar do tempo me atormenta. Tenho sede de viver a intensidade do sol, mas lá fora pouca coisa me mantém viva.
Não sei amar. Amo imagens distorcidas, projeções de seres humanos. O real me desilude.O ser de cada um me tortura. Amo o que não existe.  Mergulho nos livros e lá não encontro o fio da meada. Ando sozinha na noite e não encontro abrigo. Ando sozinha no tempo e mais uma encarnação sem encontrar a quem procuro.
Vim em um cavalo que não me deu asas. Vim em busca do tempo perdido e nada encontrei. Hoje sangro. Hoje nada sei.

Sempre mergulhando

Hoje sentada diante do Lago vislumbrei trechos da minha vida. A menina medrosa que não dormia de luz apagada, a adolescente que tremia diante da possibilidade de pisar em um terreno desconhecido à medida que se descobria mulher. A mulher adulta que ansiou pela maternidade e quando ela aconteceu ficou estática com seu primeiro filho nos braços e se perguntava: agora sou eu e ele, e daí como vou conseguir gerir esse processo?
Em seguida vi a mulher madura que está na curva da estrada mergulhada num turbilhão de incertezas. Abrindo mão da loucura incessante dos meus pensamentos e buscando construir mais perguntas diante das imagens que se dissolvem à minha frente. Quem eu era, quem sou e o que não mais ser...
As lanchas velozes levantam marolas e eu abro me abro em choro, porque queria me deixar levar pelo arremesso das águas, mas me contenho, porque ainda tenho novelos de lã para fiar. Sei que preciso fazer nascer a tecelã de palavras que ainda não conhece seu próprio desenho.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Falando de portais...

Queridas amigas de perto e de longe,

quando estava perto de completar 40 anos mergulhei em uma profunda estafa física e emocional. Diziam os médicos que eu havia tido um colapso. Na verdade considero um lapso no meu tempo interior.
Até então, me considerava uma mulher ativa e intelectualmente produtiva. Uma soma de fatores e alterações orgânicas me fizeram acreditar que não era bem assim. Eu estava começando a vislumbrar o primeiro portal na vida de uma mulher madura.
E agora? filhos adolescentes, casamento sem emoção, meu corpo se alterando a olhos vistos, a mente cansada e tantas reflexões a fazer.
Sete anos depois disso, começo o processo de compartilhar com outras mulheres o que significa para mim essa passagem. Rica por um lado e sofrida por outro.
Aqui, são apenas palavras iniciais para inaugurar esse espaço de troca e vivências.