sábado, 12 de março de 2011

Carta aos meus filhos



Hoje estou com 47 anos e não sei se terei com vocês novamente a possibilidade de falar o que sinto.
Sei que sou destemperada, falo alto, tenho gestos e atitudes tempestuosas. Sou assim sim e tenham a certeza de que não me envergonho disso.
Não me envergonho de ser baiana, de ter saído cedo de casa para lutar por melhores condições de vida. Sou uma profissional responsável, ciente dos meus deveres. Sou mãe zelosa, cuidadosa e principalmente apaixonada por meus filhos.
Tenho muitos defeitos eu sei, muitos mesmo. O principal deles foi não ter mantido a palavra com vocês muitas vezes. Prometi ações e muitas vezes voltei atrás. Mas tudo isso não me diminui como pessoa.
Sempre trabalhei com orgulho e tenho a plena certeza que sou uma guerreira e sou vitoriosa naquilo a que me propus a ser e fazer: sou uma educadora e amo o que faço.
Sou agressiva muitas vezes, mas sei me curvar e pedir desculpas, sei reconhecer quando erro. Sou forte e sou frágil.
Hoje me dirijo a ambos para deixar claro duas coisas muito sérias para mim. Sigo minha vida sozinha, nunca mais colocarei uma gota de álcool ou usarei qualquer droga lícita ou ilícita no meu corpo. Vou abraçar de fato uma causa social, vou preencher minha vida de ações úteis e o meu trabalho vai ser a cura para todos os males.
Estou machucada, triste, magoada com tudo que me aconteceu nesses três últimos anos, mas eu vou sobreviver a tudo isso, e a minha cabeça está erguida e meus olhos voltados para o futuro.
Estou chorando as minhas últimas lágrimas de dor, pelo fim de um casamento e pelo recomeço da minha vida. Toda relação quando chega no ponto que chegou a minha com o  pai de vocês é um caminho sem volta. Há breves retornos, mas são passageiros porque os motivos que nos afastaram continuam latentes. São as mesmas brigas intermináveis e idiotas e sempre pelos mesmos motivos. Eu e ele nunca combinamos de fato.
Foram dezessete anos de vozes alteradas, discussões insanas e principalmente desrespeito mútuo. Ambos temos o direito de caminhar por outras estradas e sermos felizes.
Pode ser que tudo isso que estou dizendo soe para vocês como filme antigo, porque já ouviram tantas vezes as minhas lamúrias, as minhas reclamações...
Eu não esqueci de todas as vezes que ambos me deram colo, foram meus companheiros, cuidaram de mim e foram solidários. Não tenho como agradecer tanto carinho. Sei também de tantas outras que vocês brigaram comigo, gritaram e me condenaram por tudo que eu possa ter feito de errado. Nossa relação meninos homens sempre foi muito bonita, sempre nos olhamos nos olhos e falamos nossas verdades. Amo muito vocês por isso.
Quando me virem sair de casa sozinha registrem bem e tenham a certeza, minha mãe está querendo respirar e não está fazendo nada que não poderia fazer conosco. Vou tomar muitos passes, vou orar, vou me recolher e buscar a minha paz interior.
Sejam respeitosos com seus avós, ame-os intensamente porque a permanência deles conosco é breve. Beije-os sempre porque não sabemos por quanto tempo ainda poderemos fazê-lo.
Eu estarei sempre aqui, por um tempo um dia bem o outro nem tanto, mas estarei com vocês mesmo em espírito. O amor de uma mãe é inexplicável e tudo que queremos é estar por perto.
Obrigada meus filhos.

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